A gente cresce na relação com o outro.

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sexta-feira, outubro 28, 2011

Cuidados paliativos ao fim da vida (na demência)




O envelhecimento é um processo heterogeneo que ocorre de forma singular para cada pessoa. E, ainda considerando a mesma pessoa, o envelhecimento de cada órgão também terá ritmo próprio. É por isso que pode ocorrer das funções mentais às vezes irem perdendo seu bom funcionamento antes das funções de outros órgãos. É o que comumente acontece com sujeitos demenciados, a memória se vai juntamente com outras capacidades cognitivas apesar deste ainda gozar de uma excelente saúde física.
(Burlá, 2002, apud Burlá, 2006)

Contudo, esse envelhecimento que se inicia em determinados órgãos antes de outros, não ficará estagnado, mas a tendência é que se alastre como num efeito dominó para o resto do organismo.

"Quando um órgão passa a funcionar mal, num 'efeito dominó', compromete o funcionamento de um segundo, depois, um terceiro e assim sucessivamente. O paciente fica num estado de grande fragilidade e seu controle terapêutico se torna muito complexo." (Burlá, 2006, p. 320)

Em casos de doenças irreversíveis, como num processo demencial, o tratamento é, em grande parte, caracterizado por cuidados paliativos.

"A paliação é um conjunto de intervenções farmacológicas e não-farmacológicas que busca aliviar o sofrimento do paciente. Essas intervenções não são voltadas para a cura, mas sim para o alívio dos sintomas que angustiam e afligem o paciente..." (Burlá, 2006, p. 320)

O tratamento paliativo na demência compreende o controle de sintomas comportamentais e psicológicos e, como tais sintomas se fazem sentir no dia-a-dia do paciente junto às pessoas com quem vive, o cuidador familiar é figura muito atuante na administração de tais cuidados.

Diante da impossibilidade de cura, os cuidados paliativos têm por objetivo: aliviar sintomas, possibilitar melhor qualidade de vida ao paciente, controlar as complicações clínicas e minimizar o sofrimento e a dor.

Os homens só sobrevivem pela ação do "tomar conta", o que persiste e permite a existência de todos nós. Cuidado, tão simples, tão especial e tão imprescindível à vida dos seres humanos. (Burlá, 2006)

Burlá (2006) cita como características importantes para um bom cuidado paliativo a capacidade de compreensão, empatia e bom humor por parte do cuidador. Mas será isto é possível diante de todo o estresse que pode envolver o cuidado de um familiar com demência? Minha resposta a esta pergunta é "Sim, isto é possível!" Para auxiliar na construção de um cuidado que contemple esses três aspectos, acredito ser fundamental a compreensão do que é a doença que acomete o sujeito, a compreensão do sofrimento e angústia do próprio paciente e a valorização de espaços criados para que o cuidador também possa se cuidar.

Apesar do cuidar ser algo inerente a vida humana, quando falamos em cuidado de familiares idosos e demenciados isto contempla dor e sofrimento para quem cuida. Com a evolução de uma doença incurável, o familiar cuidador irremediávelmente enfrentará um desgaste físico, emocional e financeiro. Por isto se faz tão importante um acompanhamento profissional que possa dar suporte também ao cuidador, seja através de grupos psicoeducativos ou mesmo atendimento em psicoterapia.

O cuidado tão próximo exigido por uma doença incurável e que inexoravelmente leva à morte mobiliza nessa relação paciente-cuidador uma série de afetos importantes e intensos.

"Acompanhar uma pessoa acometida de uma doença incurável até a sua fase avançada é uma experiência revestida de intensa significação, especialmente se ela apresentar comprometimento da consciência ou cognição. Sua capacidade de interação com o mundo fica prejudicada, o que exige dos seus familiares e cuidadores disponibilidade interna, pois acompanhar um ente significativo no processo de morte é tarefa que provoca profundo exaurimento emocional. Essa é a hora dos grandes resgates e resoluções de pendências, algo que o curso da doença crônica, diferentemente das mortes súbitas e inesperadas, permite." (Burlá, 2006, p. 326)


BIBLIOGRAFIA:
MEDEIROS, S.A.R. – “Envelhecimento e cuidados ao fim da vida”. In: Ligia Py. [et al] (Org.) – 2 ed. – Holambra, SP; Editora Setembro, 2006.


Atendimento Psicológico - em Botafogo
Contato: jessicacalderon.psi@gmail.com
Jéssica Calderon - CRP: 05/39344

terça-feira, outubro 25, 2011

Quem vai cuidar de mim quando eu ficar velho?




O século XXI é marcado por uma profunda transformação no que vem a ser velhice.

O século passado, a despeito de um desejo geral de longevidade, foi caracterizado por uma expectativa de vida bem inferior ao que presenciamos hoje. No Brasil, por exemplo, a expectativa de vida era de 33,7 anos em 1900; atualmente ultrapassamos a caso dos 65 anos, segundo dados do IBGE. (Censo, 2003)

Através de pesquisas na área da saúde, do avanço da genética, da criação de políticas públicas e do desenvolvimento da infra-estrutura sanitária a tão sonhada vida longa chegou e o perfil demográfico da população vai progressivamente tornando-se mais velho. No entanto, qual o espaço possível para os idosos na sociedade de na família atuais?

Pensar no velho na família contempla aspectos diversos.

Segundo Medeiros (2006), os idosos, em geral, não ocupam mais o lugar de saber que outrora lhe era destinado. Com o advento tecnológico, os netos sabem mais que os avós. Através da informática e das mídias digitais nominadas pelos mais jovens a informação é facilmente acessada a um clique. Apesar da experiência acumulada, o vovô não é mais aquele que "sabe das coisas".

Por outro lado, o idoso não necessariamente está relegado a um lugar marginal e de desprestígio na sociedade e na família. Prova isto o fato de muitos destes serem responsáveis por lares ou contribuirem de forma significativa para o orçamento familiar. Segundo dados do Censo de 2000, lares com idosos apresentam melhor condição de vida, pois contam com benefícios da seguridade social. (Medeiros, 2006)

Além da contribuição financeira, nos lares onde estão inseridos, os idosos prestam cuidados às crianças e às pessoas doentes na família. Este cuidado tem valor prático e afetivo. Essa relação de cuidado inter-geracional serve como via de trocas de carinho, histórias, valores, apoio e motivação. (Oliveira, 1999 apud Medeiros, 2006)


BIBLIOGRAFIA:
MEDEIROS, S.A.R. – “O lugar do velho no contexto familiar”. In: Ligia Py. [et al] (Org.) – 2 ed. – Holambra, SP; Editora Setembro, 2006.


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